A festa, que completa 60 anos em 2018, começou com um grupo de jovenzinhas vendendo uvas para ajudar a paróquia
Apresentação de dança italiana durante a Festa da Uva de
2017
Unidas pelo coral da Paróquia São José e Santa
Felicidade, um grupo de jovens deu origem a uma das festas mais tradicionais de
Curitiba, a Festa
da Uva de Santa Felicidade. Era 1958 quando o grupo montou uma banca em
frente aos degraus da igreja para vender as uvas que tinham sido doadas por
agricultores. Tudo para ajudar aquele que era o centro da vida social naquela
época: a própria igreja.
O bairro de Santa Felicidade é famoso por seus
restaurantes e sua atmosfera particular. Fundado por imigrantes italianos, ele
é um reduto curitibano em que famílias inteiras nasceram e se criaram, sempre
unidas pela herança da Itália e pelas amizades que duram vidas inteiras. Também
foi assim que nasceu a Festa da Uva. Odila Sirlei Ercole Pereirahoje
é uma senhora de 74 anos e sorridentes olhos claros cheios de histórias para
contar. Em 1958, no entanto, ela era apenas uma jovenzinha de quase 14 anos que
tinha na paróquia muitas de suas diversões.
Registro da primeira vez em que as meninas de Santa
Felicidade promoveram a venda de uvas que originou a Festa da Uva.
“Era muito divertido para nós,
meninotas assim, com 12, 13, 14 anos. Em volta da torre da igreja a gente
rodeava, assim, com os rapazes e tudo.” Diva Stival, 73, é prima de Odila
e explica que, em uma época em que não havia muitas opções de diversão, os
arredores da igreja “eram o lugar para namorar, ir a festas ou nos jogos de
futebol”, conta, rindo.
As brincadeiras durante a “festa”
custaram a Odila a participação em uma foto histórica, pendurada na cozinha
no Bosque São Cristóvão, que mostra a “primeira edição da Festa da Uva”.
Ela não está na imagem porque, quando o fotógrafo bateu a foto, “eu estava
colocando umas fitinhas no bolso dos rapazes. Era um jeito de chamar a
atenção”, conta, às gargalhadas.
Tudo em torno da igreja
Santa Felicidade é mais que um
bairro, é uma comunidade. E muito do espírito de união que reina por ali
começou por causa da paróquia. Não é diferente com a Festa da Uva. Odila diz
que aquela primeira edição nem foi uma festa, de fato. “Os agricultores
doaram para a igreja algumas cestas de uva. A gente fez uma decoração em frente
à igreja, pendurou uns cachinhos de uva, botou uma mesinha de madeira e se
vestiu de italianinha, com chapéu de palha assim.” Tudo foi organizado
pelas meninas do coral.
Ainda hoje, o objetivo da festa é
sempre arrecadar dinheiro para a paróquia. Em 2018, especificamente, para
a restauração
do prédio centenário. São cerca de 300 voluntáriosajudando a preparar
o frango, a polenta, o risoto e o macarrão. Tudo para devolver à igreja um
tanto da alegria que ela proporcionou e proporciona a tantos paroquianos.
As relações entre as famílias se devem, em grande parte, aos
encontros antes, durante e depois das missas e às festas realizadas “no
quintal” da paróquia.
“É uma amizade de anos porque
quando nós éramos meninotas, nós cantávamos no coral da igreja. Foi ali que
começou a nossa união, ainda meninas. E fomos crescendo, viramos mães, depois
avós e continuamos no mesmo grupo. Os filhos são amigos, estudaram quase
todos no mesmo colégio das irmãs.”
Falando com as mãos e o coração
“O italiano tem essa, gosta
de festa. Fala bastante, gesticula muito. Uma pessoa pessoa italiana
falando parece que está brigando”, ri Odila. Em Santa Felicidade, mais ainda. A
cumplicidade cultivada ao longo de décadas de convivência e o sangue italiano
ficam nítidos na maneira como os moradores se tratam.
A primeira foto, em preto e branco, é um registro da venda
de uvas que deu origem à festa. A foto logo abaixo é uma remontagem da
primeira, com as mesmas participantes
“Nessa turma que estamos ali na
foto [da “primeira edição da festa”] e mais umas dez, estamos juntas desde
meninas. Brincávamos juntas mesmo. Agora, quando nos reunimos, na
hora do café ninguém escuta nada. Não deixamos a outra falar, a outra começa e
a gente fala em cima”, diz Diva. Odila emenda, rindo, “pra gente fazer uma
oração antes do café, meu Deus. Eu comprei um sininho, senão ninguém para
de falar”.
Ela e a prima fazem parte
da Associação de Caridade de Santa Felicidade. Atualmente há 55 mulheres
trabalhando no grupo, que ajuda 167 famílias, além de idosos que precisam de
doações de fraldas geriátricas. A renda vem toda de trabalhos manuais
executados por elas e da venda de bolos, pães e doces na barraca montada na
Festa da Uva.
Da Gazeta
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